A busca do equilíbrio
Todos os extremos sempre foram sinais de desequilíbrio, e os extremismos
sempre provocaram grande mal estar no ser humano. Como vimos no artigo anterior,
pudemos constatar que a autoestima baixa é um desequilíbrio assim como a
autoestima elevada. É preciso buscar o equilíbrio, a justa medida, a temperança,
e isso é uma tarefa que vai durar a vida inteira. Estamos sempre buscando a
medida certa, mas nem sempre a encontramos. Esse é o grande desafio que
perpassará toda a existência humana. Nem muito trabalho, mas nem muita oração;
nem muito estudo, mas nem muita preguiça; nem muita ternura, mas nem muita
dureza.
A imagem da galinha e da águia podem nos dar a imagem mais aproximada da
autoestima normal, equilibrada, sem altos e baixos. Nem muito águia, mas nem
muito galinha. Explico: a imagem da galinha é dos pés no chão, de quem cisca a
terra, mas sem grandes projetos, sem voos altos. É uma caminhar rasteiro, fixo
na terra, o que é na verdade necessário e faz parte da vida da galinha. A imagem
da águia, pelo contrário, é a busca das alturas, de outros mundos, não se
contentando com as coisas básicas da terra. Voar é a sua missão, e melhor ainda,
quando os seus voos vão além de lugares já conhecidos. É a busca de novos
lugares, novas realidades, e voando sempre mais alto, como se pudesse atingir o
infinito.
Tanto a galinha como a águia, agindo assim, elas estão simplesmente vivendo a
sua realidade. Não há nada de anormal nesse seu jeito de ser e de viver. O ser
humano, no entanto, precisa ter um pouco de galinha e um pouco de águia. Nem
muito terra, mas nem muito aéreo. Ai está o grande desafio do equilíbrio, com os
pés no chão, mas sempre aberto para novos voos, novos desafios, novas
conquistas.
Quando alguém está muito fixo na terra, não vê além do nariz. A sua vida
cotidiana é monótona, sem grandes projetos, apenas vivendo para responder as
necessidades do dia a dia. Esse sujeito se satisfaz tendo uma casa, comida e
aquilo que é básico para a sobrevivência. É o estilo galinha, sem grandes
anseios, como se a vida fosse uma mera sucessão de fatos. É uma pessoa parada,
conformada, muitas vezes até desanimada, como se a vida não tivesse seus
encantos e seus sonhos.
Quando alguém vive muito no ar, também demonstra um grande desequilíbrio.
Como costumamos dizer, esse sujeito vive no mundo da lua, mas sem estar com os
pés no chão. É alguém decolado do real, e vive sempre fantasiando coisas, tais
como ganhar na loteria e ficar rico; achar um monte de dinheiro perdido por aí;
enfim, é um sonhador, mas longe da realidade. É no fundo um desequilíbrio entre
o real e o ideal. O que move a sua vida são os seus ideais, mas sem estar fixo
na terra.
A busca do equilíbrio é saber que por somos galinha, no sentido de que
devemos ter os pés no chão; no entanto, devemos também ser a águia, que não se
conforma apenas com as realidades visíveis, mas busca novos projetos, novos
desafios.
Estar com os pés no chão é muito importante, porque nos torna pessoas
seguras, sabendo o passo que pode dar, sem se arrebentar. Quando o sonho é maior
do que a possibilidade de realizá-lo, há o perigo de se arrebentar e não
conseguir nada. É preciso ser realista, mas com as asas abertas, acreditando em
novas conquistas e projetos. Aliás, a vida sem projetos e sem sonhos torna-se
muito previsível e sem encanto. Quando alguém perde o sonho, o seu olhar
torna-se evasivo, distante, sem vibração e sem entusiasmo. Ter sonhos é algo
natural no ser humano; sonhar com uma vida melhor; com um futuro mais promissor;
com a construção de uma nova comunidade e sociedade, são anseios mais do que
louváveis.No entanto, não se pode perder de vista, nunca, a realidade dos fatos.
São eles que devem dirigir a nossa existência. Pés no chão, mas sem perder de
vista a possibilidade de novos voos, é o grande desafio do equilíbrio.
Dr. Pe. André Marmilicz
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